O anúncio do pacote de corte de gastos do governo pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na noite desta quarta-feira (27), foi um ato de campanha à reeleição do presidente Lula (PT), não um anúncio efetivo de medidas econômicas para reorganizar as contas públicas. Sem entrar na meritória proposta de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil, mas pegou muito mal apresentar um plano de corte de gastos abrindo mão de R$ 50 bilhões sob a pretensa promessa de reavê-los cobrando dos chamados super-ricos.
A forma como o pacote foi divulgado passa a impressão de que o governo, fora da equipe econômica, não compreendeu a importância de vender essas medidas como positivas e está pensando apenas na política e na sua própria sucessão. Com impacto direto num eleitor que deve ser decisivo no pleito de 2026, isentar quem ganha até R$ 5 mil afaga o coração dessa fatia importante da população, com poder de converter o mais canino fiel opositor do atual mandatário do país.
O pacote econômico apresentado com pompa e circunstância em rede nacional e em horário nobre por Fernando Haddad, com direito a apelativa cifra de R$ 70 bilhões, a sedutora proposta de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e taxação para renda superior a R$ 50 mil, foi muito mais uma peça publicitária que um plano com controle efetivo dos gastos públicos. Quem prestou a atenção pôde perceber como foi bem produzido o vídeo do ministro, inclusive com âmparo de um fundo musical e imagens ao fundo do presidente Lula e da bandeira do Brasil.
A verdade é que depois de muito atraso, o governo anunciou um plano de corte de gastos, no qual promete economias de um lado e, ao mesmo tempo, cria um buraco de outro. Embora as medidas possam resultar em um crescimento menor das despesas, isso sob a notável desconfiança dos agentes econômicos quanto à maneira com que o governo trata as contas públicas — pisando no acelerador dos gastos e aumentando a arrecadação.
Embora o detalhamento dessas medidas sejam conhecidas ao longo desta quinta-feira (28), não é exagero aferir que no fim das contas prevaleceu mesmo foi o raciocínio exclusivamente político de Lula e seu núcleo mais íntimo, pesando todas as medidas não sob o aspecto da responsabilidade fiscal, mas utilizando a pauta econômica do país para os fins políticos e eleitorais.
Ivandro Oliveira é jornalista
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