A recente revelação de que a primeira-dama Janja Lula da Silva teria causado constrangimento numa reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, ao levantar críticas sobre o TikTok e seu suposto uso pela direita e extrema direita, expõe de forma clara o desalinhamento — para não dizer desespero — de um governo completamente perdido na interlocução com a sociedade em tempos de horizontalidade da comunicação.
Trata-se de uma cena simbólica: enquanto a primeira-dama, sem cargo formal e sem atribuição diplomática, tenta discutir com a potência tecnológica mundial a regulação de uma plataforma, o governo Lula 3 afunda em um abismo de ineficiência comunicacional. O episódio ilustra um governo mais preocupado em culpar ferramentas do que entender o fenômeno. Em vez de se adaptar ao novo ambiente das redes sociais, o governo Lula tenta combatê-lo com indignação seletiva, com lapsos de moralidade e intervenções desajeitadas. Pior, a primeira dama, segundos relatos, foi falar em defesa da democracia num país que não quer nem saber dessa palavra, cuja escolha de seus dirigentes se limmita a um único partido há décadas!
O resultado disso é desastroso. A oposição, especialmente seus principais expoentes, avança a passos largos no universo onde se trava a verdadeira batalha pela opinião pública: a internet. Um exemplo gritante disso é o desempenho avassalador do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que hoje figura com nada menos que quatro vídeos entre os dez mais vistos em 24 horas na história do TikTok. O mais expressivo deles, sobre um suposto roubo bilionário no INSS, acumula mais de 105 milhões de visualizações — número que supera até mesmo o vídeo da taxação do PIX, que já havia obrigado o governo petista a recuar em outra ocasião vexatória.
A verdade é que, enquanto a oposição pauta o debate público, viraliza conteúdos e se comunica com milhões em linguagem acessível, o governo ainda opera em modo analógico, dependendo de coletivas enfadonhas, pronunciamentos burocráticos e figuras desconectadas da realidade em tempos de comunicação digital. É uma luta desigual. A direita compreendeu há tempos que política, hoje, é narrativa, engajamento e presença contínua nos feeds. Já o PT insiste em discursos ultrapassados, acreditando que o prestígio de Lula é suficiente para compensar a ausência de estratégia.
O episódio com Janja, portanto, não é um detalhe irrelevante: é um sintoma de algo maior. Revela uma administração que confunde protagonismo com improviso, e que, diante da ascensão da nova direita digital, prefere mirar no mensageiro (as redes) do que encarar a mensagem. O governo está sendo derrotado no campo onde se decide a guerra da comunicação — e, ao que tudo indica, não tem ideia de como virar esse jogo.
Se não houver uma guinada urgente, com uma presença mais inteligente, ágil e estratégica nas redes sociais, o governo continuará apanhando sem resposta. Não fosse o bastante, o saldo administrativo do Brasil sob o Lula 3 é um verdadeiro museu de grandes novidades, um vazio de novas idéias.
A verdade é que o governo Lula precisa entender que está perdendo, de goleada, a batalha da comunicação. E não por causa de um algoritmo chinês ou de manipulações externas, mas por falta de presença, narrativa e conexão com os brasileiros no ambiente digital.
A oposição, com seus acertos e exageros, está moldando a percepção pública de forma eficaz. O governo, se quiser continuar a governar com credibilidade, precisa responder à altura — com inteligência, planejamento e, sobretudo, humildade para reconhecer que perdeu tempo demais no analógico.
Ivandro Oliveira é jornalista
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