Em artigo publicado em O Globo desta quinta-feira (09), o jornalista Carlos Alberto Sardenberg mostra, de forma didática, que essa história de golpista pra lá e pra cá é coisa antiga, porque, na verdade mesmo, coxinhas e mortadelas estão juntos e misturados.
Confira:
Coxinhas e mortadelas juntos
A gente que está fora da prática política estranha. Alianças federais e estaduais não têm o menor conteúdo ideológico
O partido do senador Fernando Collor, o PTC, fez aliança com o Podemos para apoiar a candidatura presidencial de Alvaro Dias. Em Alagoas, Collor é candidato a governador e tem como seu vice o vereador Kelmann Vieira, do PSDB, do tucano Geraldo Alckmin.
No Ceará, o PT descartou o senador José Pimentel, intenso militante, que queria tentar a reeleição, e deu seu lugar na chapa para o “golpista” Eunício Oliveira, do “traidor” MDB. Assim, o governador petista Camilo Santana tem ampla aliança na sua campanha pela reeleição. A outra vaga ao Senado ficou para Cid Gomes, do PDT, irmão de Ciro, que acaba de ser fritado pelo PT.
O PP está no centrão, portanto na chapa de Geraldo Alckmin. Mas o presidente do PP, Ciro Nogueira, já avisou que lá no Piauí é Lula e não abre. Não sendo Lula candidato, bom, será preciso outra conversa, não é mesmo?
A gente que está fora da prática política estranha. As alianças federais e estaduais não têm o menor conteúdo ideológico. Os cabeças de chave ainda apresentam programas — até são obrigados a isso. Mas os coadjuvantes das chapas não precisam. Não falam de programa, mas de governo, quer dizer, de participação no futuro governo.
Em resumo, a gente diz: não tem a menor lógica. Mas tem, sim. E até se pode dizer que é uma lógica econômica — a de eliminar ou reduzir a concorrência para obter controle do mercado.
Imagine que o petista Camilo Santana se recusasse a formar chapa com os “golpistas” que derrubaram Dilma. O MDB e o PDT seriam obrigados a formar suas próprias chapas, com candidatos a governador e senador. Ampliava-se assim a concorrência eleitoral, o que, aliás, daria mais opções ao consumidor, quer dizer, eleitor.
Mas concorrência é boa para o consumidor. As empresas gostam mesmo é de uma boa reserva de mercado e/ou monopólios.
Assim, na política. Fazendo aquelas amplas alianças, os caras reduzem ou eliminam a concorrência, controlam o mercado eleitoral e garantem suas eleições.
Simples, não?
Os bobos somos nós. O que achamos estranho, para eles é absolutamente normal.
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