O maior complexo hospitalar da rede pública paraibana está em situação de calamidade e não deveria nem funcionar da forma que está. O diagnóstico é do Conselho Regional de Medicina (CRM-PB), que esteve no hospital, junto com o Ministério Público, e identificou irregularidades, superlotação e pacientes sem privacidade para atendimentos. Usuários classificam como “lastimável” e “caótica” a situação do hospital.
A direção do Trauma afirmou que a superlotação ocorre por causa da alta demanda de fim de ano e porque a unidade é considerada de “portas abertas” por receber todos os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e planos particulares, sem transferir usuários, mas o CRM suspeita que o problema pode ser mais grave e tem relação com a forma como vinha sendo gerido. “Os problemas de hoje não são de agora, era uma situação que vinha se arrastando, vinham levando com a barriga e se complicou com o fechamento do HTOP, que era retaguarda”, confidenciou um diretor do CRM ao Tá na Área.
O CRM informou que não pode interditar o Trauma para que não haja graves prejuízos aos pacientes, diante da alta demanda do hospital, e espera que as medidas cabíveis contra os problemas sejam tomadas pelo Ministério Público e pela Justiça.
Crise no Trauma
Os problemas com o Hospital de Trauma começaram a ser evidenciados após o Governo do Estado pôr fim a contratos com Organizações Sociais (OS) e anunciar que a gestão de hospitais do Estado será feita pelo governo por meio da Fundação PB Saúde. O projeto que cria a estatal aguarda votação na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) e, se for aprovado, deverá começar a funcionar em abril. Os deputados estão em recesso.
Médicos contestaram formas de contratação adotadas pelo Estado e parte deles paralisou as atividades no fim de 2019. O secretário de Saúde da Paraíba chegou a assumir o plantão no hospital para reduzir os impactos no atendimento. Outros profissionais ameaçaram greve caso a situação não fosse definida até o dia 3 de janeiro. Nessa data, a Secretaria de Saúde do Estado conseguiu firmar um acordo e a proposta foi aceita pelos médicos.
Recentemente, o governador da Paraíba, João Azevêdo (sem partido), fez novas alterações na direção do hospital, em meio ao turbilhão de problemas evidenciados após as investigações da Operação Calvário.
O Trauma chegou a ser gerido pela Cruz Vermelha, uma organização social que virou alvo da Operação. A OS é suspeita de participar de um amplo esquema de corrupção no governo Ricardo Coutinho (PSB), que teria desviado mais de R$ 1 bilhão da saúde pública do Estado. Vários nomes importantes do governo chegaram a ser presos suspeitos de participar desse esquema, inclusive o ex-governador, que já foi solto, mas pode voltar para a cadeia caso haja recursos ou desdobramentos nas investigações.
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