Luto, fé e gratidão; por Ivandro Oliveira

Os últimos anos da minha vida não foram fáceis. A perda dos meus pais, num intervalo de apenas dois anos, abateu a alma e feriu-me o corpo, já tão machucado por tantas dores, sofrimentos e frustrações, e foi o ‘gatilho’ que faltava para aflorar todo o tipo de pensamento, sem contar os inúmeros sentimentos represados ao longo de uma vida inteira. Pensei, confesso, em absolutamente tudo, mas encontrei em mim mesmo o sentido da vida a partir da certeza de que Deus jamais esqueceu de cada um de nós.

A experiência da perda, a dor do luto é algo do qual não podemos fugir. Enfrentá-las nessa jornada é parte do caminho quando escolhemos amar alguém. No caso dos meus pais, foram eles que, cada um ao seu jeito, me ensinaram a amar e ser amado. Então não há como fugir: perder, perder-se, ser a pessoa perdida são as faces possíveis destas ausências que vamos conhecer ao longo da vida.

luto não tem tempo estipulado, cada pessoa sente de uma maneira, já que as dores não são quantificáveis e tampouco cabem em rótulos ou manuais. O luto não tem fim, ensina Carpinejar, mas a dor pode ser atenuada ou até mesmo trocada pela saudade.

Mas, hoje, não quero e nem devo falar de luto, mas do privilégio de ter ouvido a voz de Deus no momento mais difícil de minha vida, quando tudo parecia perder a razão de ser e existir. Foi por meio de sua doce e firme voz que deixei de lado pensamentos pertubadores e olhei para frente com a esperança de quem enxerga o agora como sendo melhor que ontem, com perseverança e fé.

Maio é o mês do meu nascimento, da minha mãe e de todas as mães. Aliás, se aqui estivesse, dona Cenilda estaria celebrando, hoje, dia 18 de maio, 69 anos de idade.

Professora de muitos e a minha maior e mais importante docente, mainha sempre foi o meu maior exemplo de mulher, de ser humano. Gentil, caridosa, amorosa, doce, solidária, alegre, inteligente, espirituosa, afetuosa e de uma fé inabalável.

Em virtude das circunstâncias, não teve condições e tempo para fazer pelo neto tudo aquilo que projetava, muito embora tenha sido por meio de suas mãos a primeira semente plantada, sendo regada por mim, Patrícia, minha amada esposa, minha irmã, Júnior, seu marido, e meu saudoso pai. Certamente, do mais alto píncaro estrelar e na companhia do meu pai, dona Cenilda deve está orgulhosa dos resultados alcançados pela missão delegada, apesar de tantos altos e baixos, compreendidos por quem sempre soube ouvir mais que falar menos a vida toda.

Minha mãe, nesse dia em que celebraríamos mais um aniversário seu, o agradecimento mais escolhido por sua doce candura, os conselhos e ensinamentos que me tornaram um ser humano melhor, resiliente e sujeito às provações, e todo o legado de retidão e honestidade que herdei da senhora e do meu pai, patrimônio imaterial do qual tenho profundo orgulho de ostentar até o último dia da minha existência.

À você, minha mãe, estrela mais candente dessa constelação interplanetária, os parabéns e a minha eterna reverência. Parabéns, mãe!

* Ivandro Oliveira é jornalista


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