Segurança (re)coloca Lula na defensiva; por Ivandro Oliveira

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Depois de uma sequência de boas notícias que havia freado a queda em sua popularidade — como o anúncio da isenção do Imposto de Renda para os mais pobres e a aproximação diplomática com os Estados Unidos — o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a enfrentar um terreno movediço. A megaoperação policial que deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, recolocou o governo na defensiva e reacendeu o discurso da direita em torno do governador Cláudio Castro (PL).

O apoio popular à ação, que ganhou contornos de cruzada contra o crime, mostrou que o campo conservador ainda detém forte poder de mobilização quando o tema é segurança pública — e tirou dos holofotes as pautas sociais e econômicas que vinham impulsionando o Planalto.

A resposta de Lula foi cirurgicamente cautelosa. O presidente evitou termos como “chacina” ou “massacre”, preferindo um tom neutro, de pesar e apelo à apuração dos fatos. O cuidado não é casual: as pesquisas indicam que, apesar do elevado número de mortos, a maioria dos fluminenses apoia a ação policial.

Segundo o Datafolha, 57% consideraram a operação um sucesso, enquanto o levantamento da Genial/Quaest mostrou que 64% aprovam a atuação da polícia. Em contraste, a aprovação de Castro subiu dez pontos em dois meses, e a desaprovação de Lula no Estado permanece alta.

Diante desse cenário, o Planalto tenta ajustar o discurso, buscando mostrar iniciativa com o novo projeto de combate ao crime organizado. Mas o episódio evidencia o ponto sensível do governo: entre o ideal de direitos humanos e a pressão popular por segurança, Lula caminha sobre uma linha tênue, na qual qualquer deslize pode custar caro politicamente.

Ivandro Oliveira é jornalista

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