Sete meses se passaram desde que o paraibano Hugo Motta (Republicanos) assumiu a presidência da Câmara Federal. O que se vê até aqui é um retrato de fragilidade política, de um dirigente que ainda não conseguiu impor sua marca nem demonstrar firmeza na condução da Casa. Motta parece refém das próprias inseguranças e, sobretudo, da sombra do seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), que permanece com ascendência sobre parte significativa dos parlamentares e sobre o próprio sucessor.
Um fator pesa de forma decisiva nesse cenário: a perda do controle sobre as emendas parlamentares. Foi esse o principal instrumento que sustentou o poder de Lira durante anos, permitindo-lhe construir uma base sólida e disciplinada. Com a intervenção do Supremo Tribunal Federal nesse campo, Motta ficou sem a principal moeda de troca para arbitrar votações e equilibrar interesses. Sem esse mecanismo, sua liderança se esvazia e os compromissos assumidos durante a eleição da Mesa Diretora se acumulam sem solução prática.
As dificuldades políticas se somam a episódios que desgastam sua imagem. A viagem a Lisboa, em avião da FAB, para participar do fórum jurídico de Gilmar Mendes, terminou em explicações constrangedoras, principalmente por ter levado, entre os caronas, o próprio Lira. Além disso, denúncias sobre supostas funcionárias fantasmas em seu gabinete e a investigação do TCU minam sua autoridade no momento em que mais precisaria se mostrar acima de qualquer suspeita.
Nos próximos dias, Motta terá de administrar pressões em duas frentes. De um lado, o governo cobra a votação do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda e cria taxações para os mais ricos. De outro, a oposição força a chamada “pauta do motim”, com a PEC da Blindagem, a PEC do Foro Privilegiado e a anistia. Entre demandas tão contraditórias, o atual presidente da Câmara parece não encontrar um eixo de equilíbrio que lhe permita arbitrar os conflitos e dar rumo à agenda da Casa.
A impressão que fica, ao fim desses primeiros sete meses, é de um presidente acuado, hesitante e sem instrumentos reais para liderar. O cargo que ocupa exige pulso, visão estratégica e autoridade política. Até aqui, Hugo Motta tem demonstrado pouco de cada uma dessas qualidades. E, caso não encontre rapidamente uma forma de se impor, corre o risco de se tornar apenas uma figura de transição, lembrada mais pelas dificuldades do que pelas conquistas.
Ivandro Oliveira é jornalista