O dia em que Lula subiu e Tarcísio teve de pedir desculpas; por Ivandro Oliveira

Enquanto a Quaest divulga sua melhor pesquisa do ano para o presidente Lula — que volta a crescer e mostra sinais de recuperação de popularidade —, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, vive talvez o momento mais delicado de sua trajetória política desde que chegou ao Palácio dos Bandeirantes. Forçado a gravar um vídeo pedindo desculpas ao povo paulista, Tarcísio revela, com esse gesto, o quanto o cenário político nacional começa a se inverter.

Uma coisa tem tudo a ver com a outra.

A pesquisa que anima o Planalto e o constrangimento que inquieta o bolsonarismo paulista são faces opostas da mesma moeda: o desgaste do projeto político da direita radical e o esgotamento de uma narrativa de confronto permanente. Lula, ao recuperar terreno, se beneficia não apenas de políticas sociais e da recomposição econômica, mas também do cansaço da sociedade com a lógica do “nós contra eles” que sustentou o bolsonarismo e seus satélites.

Tarcísio, até pouco tempo visto como o herdeiro natural de Bolsonaro, tenta construir uma imagem de gestor equilibrado, moderado, com olhar técnico. Mas ao se ver obrigado a recuar e pedir desculpas, revela a fragilidade de quem tenta equilibrar dois mundos: o da responsabilidade institucional e o da lealdade ideológica ao bolsonarismo raiz. Sua base mais radical exige confronto; o eleitor médio de São Paulo, pragmático, quer resultados.

Enquanto isso, Lula reencontra o centro da narrativa política nacional. A melhora nos índices da Quaest não é apenas numérica — é simbólica. Mostra que, apesar das turbulências, o presidente ainda é o maior polo de estabilidade do sistema político brasileiro. Em um país fragmentado, Lula continua sendo o eixo em torno do qual tudo gira — inclusive a oposição.

Tarcísio, por sua vez, começa a perceber que não há futuro político sólido sustentado apenas por fidelidade ao passado. O gesto de pedir desculpas, embora corajoso do ponto de vista institucional, enfraquece-o junto à base bolsonarista e expõe a contradição de seu projeto: quer ser o sucessor, mas também o anti-Bolsonaro. Quer governar São Paulo, mas não desagradar Brasília. Quer ser técnico, mas é refém da política.

Por isso, o contraste é revelador: quando Lula sobe, Tarcísio tropeça. E o movimento não é coincidência. É o sinal de que o eixo político brasileiro está, mais uma vez, mudando de direção.

Ivandro Oliveira é jornalista

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