Lula vive um dos melhores momentos de sua popularidade desde o retorno ao Palácio do Planalto. As pesquisas mostram recuperação na confiança popular, a economia dá sinais de fôlego e a oposição segue perdida entre crises internas e um discurso cada vez mais raso. Mas, em política, o timing é quase tudo — e foi justamente aí que o presidente errou.
Ao publicar um decreto regulamentando a atuação pública da primeira-dama, Janja, Lula escolheu o pior momento possível para comprar uma briga desnecessária. Num cenário em que deveria estar concentrado na escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal — uma decisão de peso histórico — o presidente preferiu gastar capital político numa pauta simbólica, porém altamente inflamável.
O decreto, em si, tem pouco de escandaloso. Apenas formaliza uma prática que sempre existiu: o envolvimento da primeira-dama não apenas nas causas sociais, culturais e humanitárias, mas praticamente tudo no governo. O problema é o contexto. Num ambiente político polarizado, qualquer passo que possa ser interpretado como privilégio ou aparelhamento vira combustível para os adversários. E os bolsonaristas, como era previsível, trataram de apimentar a história, espalhando a tese de “poderes oficiais” concedidos a Janja.
O fato é que Lula ofereceu à oposição o prato que ela mais gosta: uma pauta emocional, fácil de distorcer e capaz de gerar barulho nas redes. Em termos políticos, um erro primário.
Se o presidente quer, de fato, marcar a história com gestos em favor das mulheres — e contemplar a própria Janja de forma simbólica e justa — há um caminho muito mais poderoso: indicar uma mulher para o Supremo Tribunal Federal. Seria uma decisão com impacto real, capaz de romper barreiras de gênero e fortalecer o legado progressista que Lula tanto preza.
Regulamentar a atuação da primeira-dama é apenas um gesto administrativo; nomear uma ministra ao STF seria um ato político de grandeza. Entre os dois, Lula escolheu o menor — e, pior, o mais arrisccado