Janja e a narrativa que é um tiro pé no feminismo; por Ivandro Oliveira

A recente resposta da primeira-dama Janja às críticas que recebeu após sua fala sobre redes sociais durante visita à China levanta um debate importante — e delicado — sobre o uso do feminismo como escudo contra críticas legítimas. Um dos maiores riscos ao próprio movimento feminista é sua manipulação por figuras públicas que, diante da discordância, preferem se vitimizar a debater.

Nem toda crítica dirigida a uma mulher é machista — especialmente quando ela ocupa um cargo ou tem influência no campo político. Questionar opiniões, ideias e atitudes faz parte do exercício democrático. E quando se tenta blindar mulheres do debate sob a alegação automática de misoginia, acaba-se por enfraquecer as verdadeiras lutas contra o preconceito e a violência de gênero.

No caso específico, Janja e o presidente Lula fizeram declarações polêmicas sobre a regulação das redes sociais — um tema sensível, sobretudo num país com histórico de tentativas de controle da informação e cerceamento da liberdade de expressão. A crítica que surgiu não foi sobre o gênero da primeira-dama, mas sobre o conteúdo de suas palavras e o contexto autoritário do pedido feito à China.

Transformar essa crítica em misoginia é um equívoco perigoso. É usar a pauta do feminismo para silenciar o contraditório. E quando isso parte de mulheres em cargos de poder, como Janja, Gleisi Hoffmann ou Márcia Lopes, o movimento perde credibilidade — e pior, arma seus detratores com argumentos fáceis.

E se Janja não gosta desse papel de primeira-dama, pelo menos é o que se extrai a partir do tom de sua irresignação, posto que não tem nenhuma representação política, vale sempre lembrar que o simples fato de ser casada com o mandatário do país, não confere a companheira de Lula nenhuma legitimidade para representar o Estado brasileiro. Caso Janja não esteja satisfeita com esses limites que valem para qualquer primeira-dama em qualquer lugar do mundo, o correto seria se candidatar nas próximas eleições, ser eleita e aí sim adquirir direitos políticos de representação e discutir temas de alto nível com chefes de Estado.

E se tudo é machismo, inclusive o presente escrito, nada é machismo. E esse é, sem dúvida, um tiro no pé do feminismo.

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