A política brasileira nunca foi território estranho à ambiguidade. Mas o senador Efraim Filho parece estar se especializando em uma nova modalidade dessa prática: a política furta-cor — uma que muda conforme a luz, o ambiente, ou, mais especificamente, o palanque.
Em Brasília, Efraim veste o figurino de aliado do governo Lula. Defende a governabilidade, posa ao lado da articulação política do Planalto via União Brasil, e se diz comprometido com “a agenda do Brasil”. Bonito no papel, mas soa ensaiado. Já na Paraíba, o mesmo senador desce do salto e adota o tom crítico à administração petista, como se não tivesse nada a ver com os rumos do governo que ajuda a sustentar no Congresso.
É como se, ao cruzar o Eixo Monumental rumo ao aeroporto, Efraim trocasse de pele — feito cobra de duas cabeças: em Brasília, morde os petistas com elogios e apoio; na Paraíba, assopra críticas e se esquiva de qualquer associação mais firme com o presidente Lula.
Sua própria fala é uma aula de contorcionismo retórico: “A governabilidade, a agenda, eu tenho, porque meu compromisso é com o Brasil”, disse ele, numa tentativa de justificar o injustificável. E arremata: “Não tenho compromisso de defesa. Lula, quando veio à Paraíba, pediu voto contra mim…” Ora, senador, se o senhor entrega a agenda e sustenta o governo em Brasília, por que essa aversão seletiva ao PT quando pisa em solo paraibano?
A resposta parece simples: conveniência. Em Brasília, apoia-se o governo porque isso rende cargos, verbas e poder. Na Paraíba, onde o eleitorado tem uma composição distinta, prefere-se o discurso de independência e crítica ao PT. Um típico caso de “discurso indo e voltando” — ou, se quisermos ser mais populares, o famoso “samba do crioulo doido”, onde nada se encaixa, mas tudo se dança.
Efraim Filho representa, com perfeição, o político que quer agradar a todos e, no fim, não se compromete com ninguém — exceto com o próprio projeto de poder. A política precisa de coerência, de firmeza de propósitos, e não de atores com falas duplicadas conforme a plateia. O Brasil já tem camaleões demais.
Ivandro Oliveira é jornalista