Da liberdade ao medo; por Ivandro Oliveira

Fachado do edifício do STF, em Brasília. Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

O debate sobre eventuais limites ao consagrado direito da liberdade de expressão está em evidência no Brasil, não por parte da sociedade, mas por quem tem ficado incomodado com canais, meios e ferramentas que têm dado voz a ela. Nos últimos anos, o Brasil passou de um país que celebrava o fim da censura e a liberdade de expressão para um cenário cada vez mais marcado pelo medo, pela repressão e pela tentativa de controlar o que pode ou não ser dito. Essa mudança não aconteceu por acaso, e os sinais desse tempo estranho estão cada vez mais cristalinos em diferentes esferas da sociedade.

Recentemente, o presidente Lula voltou a defender a necessidade de regular as redes sociais, defendendo até, pasmem, um enviado da ditadura chinesa para auxiliar o país nessa frente de batalha. Curiosamente, na mesma semana, a Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com uma ação no STF pedindo exatamente o fim de certos princípios que garantem a liberdade de expressão e que estão listados no marco civil da internet. Essa contradição revela uma lógica preocupante: enquanto o governo fala em liberdade, age de forma a restringi-la, especialmente faltando um ano para a eleição, onde o controle da narrativa parece ser prioridade.

Essa atmosfera de contenção ao que eu e você podemos falar não se limita às redes sociais. Ela se manifesta também na sociedade civil, nas universidades e na imprensa. Vimos, por exemplo, estudantes de direita expulsos de suas universidades por manifestações de opinião, ou advogados sendo ameaçados por criticarem o STF. E, mais emblemático ainda, a condenação da jornalista Rosane de Oliveira a uma multa exorbitante por divulgar informações corretas, mas com um tom considerado sarcástico. Para fechar com chave de ouro, um humorista condenado a 8 anos por fazer piadas. É o Brasil de hoje: um país que, ao invés de valorizar a transparência e o debate aberto, tenta regular o tom, censurar opiniões e silenciar vozes dissonantes.

Essa cultura de medo tem raízes profundas e remontam um tempo que muita gente não gosta nem de lembrar. Hoje, assistimos a um país que se tornou ranzinza, resmungão e que quer a todo custo tornar o que já não é bom em muito ruim. A base da sociedade, que deveria ser plural e diversa, está cada vez mais capturada por uma monocultura ideológica, onde quem pensa diferente é visto como inimigo.

O resultado dessa escalada rumo ao nebuloso pântano do autoritarismo é um país doente, que perdeu a coragem de falar e se expressar livremente. Esse cenário enfraquece a democracia, dar voz ao medo e encaixota a população. A liberdade de expressão, que deveria ser um pilar fundamental, está sendo substituída por uma cultura de silêncio, de autocensura e de medo de represálias. Hironia ou não, tudo isso com o patrocínio de quem jurou honrar e cumprir a Constituição!

Será que há esperança de mudança? Talvez sim, se a sociedade recuperar a coragem de dialogar, de discordar e de questionar. Mas isso exige uma cultura de tolerância e de respeito à diversidade de opiniões, algo que se constrói ao longo do tempo. Enquanto isso, o Brasil corre o risco de se tornar um país onde o medo impera, e a liberdade, cada vez mais, fica à margem.

Veja o comentário em áudio e vídeo do jornalista Ivandro Oliveira:

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