Com R$ 5,1 bilhões acumulados pelos 22 clubes brasileiros com maior receita, o futebol do país atingiu o maior valor na sua história. Impulsionados principalmente pela venda dos jogadores, alguns clubes driblaram a queda natural que se esperava depois do adiantamento das cotas de TV.
Flamengo, Palmeiras e São Paulo foram os três clubes com as melhores arrecadações no futebol brasileiro no ano passado. Todos eles cresceram em suas receitas na comparação com o ano passado, mas dos 22 clubes analisados, 13 tiveram quedas nas arrecadações. Os dados são do estudo feito pela BDO Esporte Total.
A diminuição nas receitas totais se deu basicamente por causa da diferença na participação por fonte de renda. Em 2016, o adiantamento das cotas de TV foi decisivo para os clubes apresentarem um balanço um pouco mais robusto e dizer que fecharam o ano no azul. Para 2017, a participação das cotas foi de 37%, contra 50% no ano anterior.
Mesmo sem considerar as transferências, o Flamengo ainda estaria liderando o ranking de receitas, mas seria seguido de perto pelo Palmeiras. Os dois times acumulariam R$ 466 milhões de receita e estariam tecnicamente empatados. O Rubro-Negro tem uma base de receita maior nos direitos televisivos, enquanto o clube paulista tem mais força no patrocínio e bilheteria.
Receita total dos times em 2017 BDO (Foto: Reprodução/BDO)
Mas só a análise de quanto que determinado clube arrecadou em 2017 não quer dizer muita coisa. É preciso aprofundar o olhar e ver que superávit/déficit e endividamento também são importantes para termos um resultado mais preciso sobre a saúde financeira dos clubes.
Superávit/Déficit
Nem sempre uma boa receita total quer dizer que o clube lucrou na mesma proporção naquele ano. Vejamos o São Paulo, por exemplo. Por mais que tenha arrecadado R$ 483 milhões, teve apenas R$ 15 mi de superávit (quando ganha mais do que gasta). Flamengo e Palmeiras também estão na ponta dessa tabela, mas um clube chama a atenção: o Botafogo.
O Alvinegro teve um aumento na receita total de 65%, foi de R$ 160,1 mi para R$ 264,3 mi. Mas não é só isso que faz o clube saltar aos olhos dos economistas. O Botafogo foi o teceiro clube com melhor resultado operacional e teve superávit de R$ 53,4 milhões.
– O Botafogo não teve um aumento significativo de receita. Teve uma receita não-operacional, mas teve um crescimento de bilheteria baseado na Libertadores e aproximadamente R$ 10 mi a mais no patrocínio, que foi baseado no desempenho de dentro de campo. Teve uma operação vitoriosa principalmente por causa da Libertadores – disse Pedro Daniel, responsável pela área de esportes da BDO Brazil, empresa que apresentou os números e conta o que o Botafogo tem que fazer para melhorar a questão financeira.
– Tem que montar uma operação dentro da sua realidade. O Botafogo tem uma dívida com o Profut muito elevada e tem uma questão de dívida trabalhista grande. Não dá para disputar em pé de igualdade com Flamengo e Palmeiras porque não tem a mesma receita que eles. O que consegue é controlar suas despesas. Então vai ter que reduzir e entrar nessa disposição de que não vai ter título num primeiro momento e com o tempo volte a competir. Muito parecido com o que o Flamengo fez em 2013.
Na outra ponta, o Fluminense foi o clube que teve o pior déficit e acumulou um prejuízo de quase R$ 80 milhões. O Tricolor foi um dos 11 clubes que apresentaram mais gastos do que ganhos no ano de 2017.
Resultado operacional dos clubes mostra Flamengo com o maior superávit e o Fluminense com o pior déficit (Foto: Reprodução/BDO)
Dívidas
Apenas sete dos 22 clubes conseguiram diminuir as dívidas de um ano para o outro. O melhor exemplo dos times é, novamente o Flamengo. O Rubro-Negro diminuiu seu endividamento em 23% e foi seguido de Cruzeiro e São Paulo. Quem segue na liderança do indesejável ranking é o Botafogo, mas reduziu em 4%, o equivalente a R$ 30 mi. Como a dívida do Alvinegro é grande demais, é preciso um tempo maior para equacioná-la.
Por outro lado, Fluminense, Vasco, Palmeiras, Sport e Figueirense tiveram mais de dois dígitos de aumento nas dívidas. O Sport foi o clube que acumulou a maior dívida no período, com um aumento de 51%. Enquanto o time comandado por Roger Machado aumentou R$ 67,2 mi, o maior endividamento em valores absolutos.
Dívidas dos clubes 2016 e 2017 BDO (Foto: Reprodução/BDO)
Bons e maus exemplos
Pedro separou três clubes que podem ser considerados bons exemplos…
- Flamengo – O clube está em um ciclo virtuoso há um tempo. É o clube que mais fatura no Brasil pelo terceiro ano seguido se eu não me engano. Há uma queda de endividamento muito acentuada. O clube conseguiu virar a chave e agora tem um patrimônio líquido positivo, ou seja, quando tem mais recebíveis do que coisas a pagar. Com isso, se torna mais atrativo para o mercado.
- Palmeiras – O endividamento do Palmeiras foi baseado numa reclassificação dos atletas, os que eram do parceiro e viraram do clube. Tem também um custo no departamento de futebol maior do que o do Flamengo. O investimento no futebol profissional foi maior, por isso o superávit não foi tão grande. O Palmeiras teve uma grande venda em 2016, mas não em 2017. Mesmo assim, é possível considerar um bom ano para o Alviverde, principalmente por causa da reclassificação dos jogadores.
- Grêmio – Conseguiu equalizar a geração de caixa, não tem um custo tão elevado, mas conseguiu ser competitivo e atrativo mesmo sem tanto investimento.
E também os que não estão tão bem assim:
- Fluminense – Extremamente deficitário, o Fluminense fez um investimento muito elevado fora da realidade (que não é só por causa da construção do CT), que aumentou muito a despesa e teve uma queda de receita brusca. Essa é a fórmula mágica para ter problema
- Vasco – O Vasco tem um conjunto de indicadores que não são favoráveis. Ele vai ter que buscar receita extraordinária e provavelmente vai ter que vender outros atletas. Tem a sua despesa, que é recorrente, mas sem receita recorrente. A única maneira é vender atleta ou conseguir luva com renegociação de contrato. Mas o Vasco vai ter que vender atleta, como já está fazendo. Tem um endividamento muito grande. Com o Profut você não pode antecipar receita e ao mesmo tempo tem que manter o pagamento recorrente.
- Internacional – Com a queda em 2016, o Inter manteve as despesas que tinha na Série A, mas com um retorno de Série B, o que é muito preocupante. Então vai ter que tomar cuidado porque se perder o Profut, as dívidas ficam mais caras e é um risco bem preocupante.