A história do River Plate está dividida em antes e depois de Marcelo Gallardo. Com a conquista da Recopa sobre o Atlhetico-PR, “El Muñeco” tornou-se o técnico mais vitorioso da trajetória de 118 anos do gigante argentino. São nada menos do que dez títulos (oito no âmbito internacional) desde que em 2019 assumiu a casamata do clube onde começou sua vida futebolística e do qual já era ídolo como jogador.
Quando Gallardo chegou ao Monumental de Núñez, os millonarios ainda tentavam remendar o espírito após o dantesco rebaixamento de 2011. Ao longo dessas cinco temporadas, o técnico de 43 anos não apenas devolveu à torcida do River o doce hábito da comemoração, mas transformou o time do norte de Buenos Aires em um terror copeiro com o qual ninguém em sã consciência deseja encontrar pelo caminho. Com uma cereja na parrillada millonaria: mesmo o Boca Juniors, rival íntimo e intransferível, transformou-se em presa recorrente neste que é um dos melhores momentos da história do clube de la banda. Contra os xeneizes, o River Plate venceu duas decisões diretas: Supercopa Argentina e Libertadores.
Esse caráter implacável e traiçoeiro do River Plate pode ser atestado pela natureza dos títulos conquistados. Entre as dez taças levantadas, não há sequer um campeonato argentino. Sob a batuta de Gallhardo, o faro millonario está apontado para as copas: duas Libertadores (2015 e 2018), uma Sul-Americana (2014), três Recopas (2015, 2016 e 2019), duas Copas Argentina (2016 e 2017), uma Supercopa Argentina (2018) e de gorjeta ainda a famigerada Suruga (2015). Não em vão, a exemplo do que aconteceu com Renato Portaluppi, há uma movimentação para que se erga no Monumental uma estátua do técnico, que ontem deixou em aberto seu futuro a partir de dezembro, colocando mais tempero na comoção nacional para que assuma a sempre carente seleção argentina.
O título da Recopa também garantiu ao antigo meio-campista habilidoso uma outra marca impressionante. Conforme salientou o jornalista argentino Diego Borinsky, autor de uma biografia sobre Gallardo, ele tornou-se o técnico com o maior número de títulos conquistado em um clube na Argentina. Deixou para trás Juan Ramón Diaz, do próprio River, e Carlos Bianchi, líder boquense, ambos com nove conquistas.
É claro que são números absolutos, que não pesam a a importância das conquistas — Bianchi, por exemplo, levantou três Libertadores e duas Intercontinentais no comando daquele triturador de almas que era o Boca Juniors dos anos 2000, além do muito que já vencera no Vélez Sarsfield. “El Muñeco” tem a seu favor, no entanto, e isso é o mais assustador, o fato de que sua carreira ainda nem alcançou a primeira curva. Mas o futuro pertence a Dios. O que se pode dizer, sem pestanejar, é que hoje nas margens do Rio da Prata se vive sob a égide da Era Gallardo.




