Bolsonaro condenado, mas o ‘bolsonarismo’ está livre e pronto para 2026; por Ivandro Oliveira

Bolsonaristas na Av. 23 de Maio, neste domingo (8) — Foto: Reprodução

Poderia começar esse artigo de outra forma, homenageando a memória do meu pai, que deveria estar celebrando seus 73 anos, mas se foi no tempo em que governantes escolheram zombar da dor alheia. Filho de uma das vítimas da Covid-19, poderia optar por ir à forra sobre o governante da época, exaltar sua condenação e deixar de lado a análise percuciente e responsável dos fatos e acontecimentos utilizando a razão e sua insofismável capacidade de trazer luz às sombraRefiro-me.

Como sabido, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi condenado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e 3 meses de prisão, em regime inicialmente fechado, por tentativa de golpe de Estado. De pronto, como assinalei no artigo anterior, também me associo ao voto proferido pelo ministro Fux. Doravante , sem adentrar nessa seara, trata-se de uma decisão inédita na história do Brasil: pela primeira vez um ex-presidente da República é punido por tramar contra a posse legítima de seu sucessor. Ao lado dele, quatro militares de alta patente também foram sentenciados, escancarando a dimensão institucional da conspiração derrotada.

O veredito representa o fechamento de um ciclo que começou ainda na juventude de Bolsonaro, quando seus atos de insubordinação o expulsaram da carreira militar. A partir daí, construiu-se uma trajetória marcada por radicalismos, obscurantismo e uma retórica agressiva que encontrou eco em parte expressiva do eleitorado brasileiro. Durante décadas, foi apenas um deputado irrelevante. Até que, surfando na onda do antipetismo e da crise de representatividade dos partidos, ascendeu à presidência da República — onde deixou claro que jamais abandonara sua predileção por medidas excepcionais, tampouco sua disposição para desafiar os freios institucionais.

Sua condenação carrega um valor simbólico inegável. É o Estado democrático de direito reafirmando, diante da sociedade e do mundo, que não há espaço para aventuras golpistas. Porém, seria precipitado interpretar essa decisão como um ponto de virada definitivo. O populismo — seja ele bolsonarista ou não — segue vivo e pulsante no Brasil. Ele se alimenta do desencanto com a política, da percepção de ineficiência das instituições e do crescente ceticismo em relação ao próprio sistema democrático.

Além disso, a condenação partiu de uma instituição que muitos brasileiros veem como parte interessada no jogo político. Para esses setores, o STF não é apenas guardião da Constituição, mas também ator responsável pela volta de Lula ao poder e, agora, pela suposta perseguição a Bolsonaro. Essa leitura, ainda que distorcida, alimenta a narrativa de vitimização e fortalece o imaginário de uma base já predisposta ao confronto.

A grande incógnita é quem, se é que alguém, ocupará o espaço deixado por Bolsonaro como líder de massas. Talvez não exista substituto capaz de mobilizar as ruas com a mesma intensidade. O que está claro é que o sentimento de descontentamento, desconfiança e insatisfação com o “sistema” não desapareceu — e, em tempos de redes sociais, tende a se amplificar.

Assim, o julgamento e a condenação do ex-presidente não encerram um ciclo, mas se somam a um embate que segue cada vez mais polarizado e radicalizado. O bolsonarismo já não é apenas Jair Bolsonaro: é uma força política e cultural que está presente em boa parte da sociedade, moldando valores, crenças e pautas que vão muito além de um único líder.

O fato é que os ideais abraçados pelo bolsonarismo estão ainda mais vivos e à espera tão somente de um novo ‘embaixador’ que os apresente ao distinto público, muito provavelmente nos próximos dias, quando um novo nome será apresentado por esse agrupamento, porque, na política, não existe espaço vazio.

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