
Um canal de 170 metros de largura e 3 metros de profundidade dividiu em duas a Ilha do Cardoso, no extremo sul do litoral de São Paulo. Pesquisadores estimam que em um mês, a nova barra, que conecta o Estuário de Ararapira ao Oceano Atlântico, atinja um quilômetro de extensão, alterando o ecossistema costeiro e isolando 50 moradores.
O processo natural de erosão (movimento de sedimentos pela corrente da água) ocorre há 60 anos no entorno da Enseada da Baleia, que começou a ser extinta em definitivo na segunda-feira (27) em decorrência de uma ressaca marítima. A largura da faixa de areia já mediu 80 metros e, na última década, foi reduzida a menos de 2 metros.
Foram acadêmicos e estudantes do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que alertaram, em 2009, sobre o possível desfecho do fenômeno para este ano. “Projetamos com base em imagens de satélite o avanço da erosão. A abertura [da barra] foi ao final dessa janela tempo”, explica a professora Maria Cristina de Souza.
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Sobrevoo em 2016, após ressaca do mar, já antecipava o fim da Enseada da Baleia (Foto: Divulgação/Defesa Civil )
Segundo Maria Cristina, trata-se de uma ação da natureza que o homem, desta vez, não teve interferência. “A dinâmica daquela região é instável, da água do estuário avançando para o mar. No passado, já ocorreram outras aberturas e acreditamos que, em breve, ocorrerá o assoreamento [deposição de sedimentos] na antiga barra, na divisa com o Paraná”.
A agitação marítima desta semana, ocasionada pela passagem de uma frente-fria na costa dos dois estados, resultou no esperado encontro do estuário com o oceano. Entretanto, uma ressaca ainda mais intensa em 2016 já havia motivado a criação de um plano de emergência pela Defesa Civil e a mudança das casas de 15 pescadores que viviam ali.
O gestor do Parque Estadual Ilha do Cardoso, Edison Nascimento, afirma que o fenômeno erosivo é natural e é acompanhado pela Fundação Florestal e pelo Instituto Geológico, ambos subordinados à Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo. “O que era esperado, finalmente aconteceu. E agora vamos avaliar os reais impactos ao ecossistema”.
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Estuário e oceano se uniram por meio de uma nova barra (Foto: Edison Nascimento/Fundação Florestal)
Nascimento concorda com a pesquisadora da UFPR sobre as alteração das dimensões iniciais da nova barra para as próximas semanas, quando deverá ocorrer o equilíbrio daquele ambiente. Foi a equipe dele que constatou o comprimento e a profundidade iniciais, na terça-feira, durante uma vistoria em uma embarcação, com equipes da Defesa Civil.
O gestor afirma que não correm riscos as 50 pessoas que vivem no Pontal do Leste, uma vila no extremo sul da “nova” ilha, na divisa com o Paraná. “Por terra, não tem como chegar mais até elas. Entretanto, todas as 15 famílias que moram naquela comunidade se movimentam de barco, são autossustentáveis e já estão acostumadas às distâncias da região”.

Início da abertura da nova barra foi flagrada durante ressaca do mar em Cananéia, SP
Em Cananéia, o secretário de Meio Ambiente Erick Willy Weissberg, afirma que a administração muncipal está pronta para agir se a situação fugir do controle nas próximas semanas. “As pessoas que vivem ali estão seguras, conforme temos triangulado as informações. Só poderemos ter a certeza do que vai acontecer ao final da abertura da barra”.
O traçado original do Canal de Ararapira, até então, fazia a divisa entre os estados, e o parque paulista com o Parque Nacional de Superagüi, no Paraná, administrado pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio), que ainda não se pronunciou. Mesmo com a nova disposição da área, se confirmada, os limites são mantidos e as referências passam a ser virtuais, por coordenadas.
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Fundação estima que profundidade do canal seja de 3 metros (Foto: Edison Nascimento/Fundação Florestal)
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