Somos todos Sérgio Moro, por Ivandro Oliveira

Federal Judge Sergio Moro during a session of the Committee on Constitution and Justice of the Senate that discuss changes in the Code of Criminal Procedure, in Brasilia, on September 9, 2015. Judge Moro leads Brazil's huge anti-corruption drive that investigates the cases of corruption in the state-owned oil company Petrobras. AFP PHOTO/EVARISTO SA

O jornalista Ivandro Oliveira, que é diretor de Conteúdo do Tá na Área, em mais uma análise sobre o cenário nacional avalia o anúncio do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça e Segurança de Jair Bolsonaro, presidente eleito no último domingo (28). Em seu escrito, Ivandro descreve Sérgio Moro como alguém que comandou até aqui  a maior investigação de combate à corrupção da história do Brasil, escancarando para o Brasil e o mundo as entranhas de uma estrutura podre e carcomida de anos e anos de impunidade. “Foi sob a sua batuta que procuradores e policiais federais levaram a cabo sucessivas operações que desarticularam verdadeiras quadrilhas e que colocaram atrás das grades saqueadores da coisa pública e criminosos de colarinho branco, inclusive um ex-presidente da República.”

Confira, na íntegra, o artigo:

Somos todos Sérgio Moro

Por Ivandro Oliveira

Os brasileiros que amam o país em que vivem e torcem pelo futuro das novas gerações estão em júbilo com o anúncio do juiz federal Sérgio Moro no Ministro da Segurança e da Justiça no governo de Jair Bolsonaro. No país em que se tornou comum a ideia de que o crime compensa e que a ladroagem é endêmica desde o desembarque, no Rio de Janeiro, da Coroa portuguesa, o fato é extraordinariamente emblemático só não alcançado pelos que não mais estão entre os vivos ou aqueles doutrinariamente adestrados pelo ideologismo mais inconsequente.

Símbolo da luta contra a corrupção, Sérgio Moro comandou até aqui  a maior investigação de combate à corrupção da história do Brasil, escancarando para o Brasil e o mundo as entranhas de uma estrutura podre e carcomida de anos e anos de impunidade. Foi sob a sua batuta que procuradores e policiais federais levaram a cabo sucessivas operações que desarticularam verdadeiras quadrilhas e que colocaram atrás das grades saqueadores da coisa pública e criminosos de colarinho branco, inclusive um ex-presidente da República.

Em meio aos questionamentos legítimos sobre eventuais excessos, especialmente no uso de prisões preventivas no processo para conseguir acordos de delação premiada, quando réus confessam os crimes e aceitam colaborar com as investigações em troca de penas menores, a verdade é que Operação Lava Jato e o juiz Sérgio Moro estão para o combate à corrupção como Sócrates à filosofia. A sua escolha para o Ministério da Segurança e Justiça é mais que acertada e pode ser encarada como um ´cartão de visita’ de um governo, mesmo sem começar, acaba de marcar um golaço.

Mais que qualquer outra coisa, é o indicio concreto de que Bolsonaro deve ser implacável contra a corrupção e a mais eloquente demonstração de que a complacência com o banditismo e o crime organizado no país estão com os dias contados.

Quem não pensa assim age na contramão da história e cede ao fanatismo ideológico mais torpe, praticado por aquele tipo de gente que mesmo sem gostar do síndico onde mora não se contenta em criticá-lo para quem sabe colocá-lo para fora, porque torce mesmo para o edifício cair, o que é incompreensível. Pior que isso é acreditar que a maior investigação de combate à corrupção, que recuperou quase R$ 25 bilhões roubados por bandidos fantasiados de políticos, foi uma grande armação apenas para atentar contra o PT, tirar Dilma do poder e prender Lula para não voltar a ser Presidente da República.

Tal devaneio é sem precedentes, porque, como bem acentua  Brecht, ‘pobre do país que precisa de heróis’, cuja frase discordo por acreditar que o verdadeiro problema não é tê-los, mas trocá-los por vilões, vide o exemplo de Macunaíma, aquele sem caráter e altamente perigoso. Sem qualquer demérito aos militantes e ‘viúvas do lulismo’, prefiro acreditar que nosso verdadeiro herói brasileiro resolveu assumir uma missão ainda mais espinhosa em 2019, a de combater com todos os meios possíveis e até impossíveis um crime cada vez mais organizado, e capaz de planos cada vez mais audaciosos contra o país e o seu povo.

É por isso que a sua, a minha e a nossa torcida devem ser para que Moro repita no Ministério da Justiça seu desempenho na condução da Lava Jato, operação em que  exemplarmente esteve na linha de frente no combate à corrupção. É chegada a hora de enfrentar o crime organizado, de reduzir siglas como o PCC a más lembranças de um Brasil governado por bandidos fantasiados de políticos.

Quando o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955) afirmou que “o homem é o homem e a sua circunstância”, buscou considerar que, num mundo em perpétuo movimento e transformação, o ser humano só pode ser entendido como sujeito ativo, à medida que se analisa simultaneamente tudo ao seu redor, inclusive o corpo físico desse ator, mergulhado em determinado momento histórico. Esse é, acredito, sem meias verdades ou mentiras completas, o sentido da ida do juiz Sergio Moro para o Ministério da Justiça, uma missão amparada  por um bem maior, que é consolidar os avanços da Lava Jato e avançar contra o crime organizado, problemas extremamente preocupantes no nosso país, assim como a defesa do fortalecimento da própria democracia, pressuposto da luta contra a corrupção.

Fica a torcida, a esperança e o desejo de boa sorte, porque, no final das contas, somos todos Sérgio Moro!

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