João Pessoa — O ambiente político na Paraíba ganhou novos contornos após o senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmar publicamente que o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) seria “o segundo Severino Cavalcante” e que sua queda política seria apenas uma questão de tempo. As declarações foram interpretadas como o estopim de uma ofensiva política articulada pelo grupo do senador contra a base do parlamentar paraibano.
Pouco tempo depois, o ministro dos Transportes, Renan Filho, filho do senador, desembarcou na Paraíba sob o argumento oficial de lançar o programa federal CNH Brasil, voltado à pseudo ampliação do acesso à Carteira Nacional de Habilitação. No entanto, aliados de Hugo Motta avaliam que a agenda teve como objetivo real pressionar lideranças locais e fragilizar o apoio ao deputado no estado.
A controvérsia se intensificou após um episódio envolvendo o Detran-PB. Segundo denúncias feitas por adversários políticos e reforçadas por registros públicos, uma jovem foi utilizada como peça central da divulgação do programa e teria obtido a CNH sem cumprir integralmente as etapas exigidas pela legislação de trânsito.
O caso ganhou ainda mais repercussão porque a própria jovem publicou em suas redes sociais relatos e imagens indicando que não teria passado por todas as fases obrigatórias do processo legal para obtenção da habilitação. As postagens, amplamente compartilhadas, levantaram questionamentos sobre possível facilitação indevida e uso político da estrutura administrativa estadual para criação de um factoide midiático.
Críticos afirmam que a ação buscou produzir impacto político imediato, vinculando o ministro a uma suposta entrega de benefícios, ao mesmo tempo em que constrangia adversários locais. Para esses setores, trata-se de instrumentalização de um programa federal com fins essencialmente políticos.
Até o momento, o Ministério dos Transportes e o Detran da Paraíba não apresentaram esclarecimentos públicos sobre as denúncias nem sobre o conteúdo divulgado nas redes sociais pela jovem envolvida. Especialistas ouvidos pela reportagem ressaltam que, se confirmadas, eventuais irregularidades podem caracterizar infração administrativa grave e possível violação aos princípios da legalidade e da impessoalidade na administração pública.
O episódio expõe o acirramento das disputas políticas entre grupos tradicionais do Congresso Nacional e lança dúvidas sobre o uso de programas governamentais como ferramentas de pressão política regional, especialmente em um cenário de pré-articulação eleitoral.




