Bruno e o buraco profundo em Campina Grande; por Ivandro Oliveira

Depois de um longo e “tenebroso inverno” político e administrativo, o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (UB), reapareceu. Mas voltou do jeito mais desastroso possível para quem tenta reorganizar sua imagem às vésperas de um novo ciclo eleitoral: expondo fragilidades, revelando contradições e admitindo, de forma involuntária, que sua gestão passou quase cinco anos sem entregar planejamento mínimo para setores essenciais da cidade.

O que mais chamou atenção no discurso ensaiado do prefeito não foi o conteúdo técnico, nem a sempre conveniente menção a consultorias renomadas — como a Falcone, citada por ele como parceira em um suposto “planejamento estratégico” para a saúde de médio e longo prazos. O espanto veio justamente da confissão embutida: por que só agora?
Por que, às portas do fim do mandato, o prefeito descobre que Campina Grande precisa de estratégia?
Por que uma das áreas mais sensíveis — a saúde — só ganhou um plano estruturado depois de quase todo o tempo de governo consumido?

A declaração, em vez de sinal de responsabilidade, soou como atestado de inércia.

Uma cidade que não pode mais esperar

E a saúde, como sabem os campinenses, não é o único setor afogado em problemas estruturais. Ao contrário: é apenas o capítulo mais conhecido desse enredo.

Nos últimos dias, o vereador Wellington Cobra trouxe à luz um retrato ainda mais cruel — o da educação municipal. E não se trata de denúncia genérica ou crítica partidária, mas de constatações feitas in loco durante visitas às escolas da rede. O cenário descrito pelo parlamentar é tão grave que dispensaria adjetivos, se a realidade não fosse mais eloquente do que qualquer frase de efeito:

  • salas sem estrutura adequada;
  • infiltrações oferecendo risco a alunos e professores;
  • reformas abandonadas ou paralisadas;
  • falta de manutenção básica;
  • carência de materiais essenciais;
  • escolas liberando estudantes mais cedo por falta de merenda.

É um roteiro que não se espera de uma cidade do porte, da história e da relevância de Campina Grande. Pior: é um espelho que reflete uma verdade desconfortável — a gestão de Bruno Cunha Lima não apenas deixou de avançar, como deixou de cuidar do básico.

Gestores escolares, professores e pais relatam que nunca viram tamanho descaso. A educação, que deveria ser o alicerce de qualquer administração moderna, foi relegada à própria sorte. O que o vereador Cobra descreve não é um ponto fora da curva; é o retrato de um sistema inteiro em colapso.

O prefeito reaparece, mas a realidade já havia chegado antes

O reaparecimento de Bruno Cunha Lima, portanto, não recupera politicamente o prefeito — apenas evidencia seu isolamento dos problemas reais da população. Afinal, quando um gestor, após quase cinco anos, promete entregar soluções apenas para “médio e longo prazos”, ele admite que:

  1. não conseguiu resolver no curto prazo;
  2. não priorizou o que deveria ter sido prioridade;
  3. não sabe — ou não conseguiu — enfrentar a urgência dos serviços essenciais.

A saúde continua agonizando. A educação, segundo relatos e vídeos divulgados, encontra-se num estado que beira o abandono institucional. A infraestrutura escolar desmorona — literalmente. E o prefeito surge agora com a promessa de que está “planejando”.

A pergunta que Campina Grande faz, em silêncio ou em voz alta, é simples:
O que ele fez durante todo esse tempo?

O inverno passou — mas os estragos ficaram

Se o objetivo era reconstruir imagem, recolocar narrativa ou reposicionar a gestão, o tiro saiu pela culatra. Bruno Cunha Lima voltou, mas voltou pequeno diante do tamanho das demandas da cidade.

Campina Grande não precisa de consultorias tardias, discursos estrategicamente calculados ou promessas para prazos que ele não vai mais governar. Campina Grande precisa de gestão. De presença. De compromisso real — não retórico — com saúde, educação e dignidade para seus cidadãos.

E isso, ao que tudo indica, não esteve no planejamento do prefeito durante esses cinco anos. Porque se estivesse, o cenário que se vê hoje não seria tão devastador.

Para o bem da cidade, espera-se que o inverno político de Bruno Cunha Lima tenha chegado ao fim. Mas, para muitos campinenses, o frio da ausência de governo ainda está longe de passar.

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