O Brasil caminha para uma das disputas eleitorais mais previsíveis no enredo e mais imprevisíveis no desfecho. De um lado, a esquerda, sob a liderança quase interminável de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afina seu discurso em torno da defesa da soberania nacional, do fortalecimento do Estado e da crítica às elites econômicas. De outro, a direita se organiza para transformar a segurança pública — ou a sensação de insegurança — no eixo central de sua narrativa. A eleição de 2026, ao que tudo indica, será o confronto entre dois projetos de país, ambos ancorados em emoções fortes e discursos de fácil identificação popular.
A tese da esquerda é simples e já testada em outros ciclos liderados pelo chamado lulopetismo: posicionar-se como guardiã dos interesses nacionais e contraponto às elites financeiras, à concentração de renda e à dependência externa. É uma narrativa que fala com o trabalhador, com o pequeno produtor e com todos que se sentem à margem do poder econômico. A soberania, nesse contexto, vira bandeira política — não apenas no campo econômico, mas também no simbólico.
Do outro lado, a direita aposta em uma agenda igualmente direta e potente: segurança pública. A pauta do medo e da ordem, que historicamente mobiliza o eleitorado conservador, volta a ganhar espaço diante do aumento dos índices de violência e da sensação generalizada de impunidade. A direita enxerga aí a oportunidade de conectar-se com o cidadão comum, aquele que não discute macroeconomia, mas sente o impacto da criminalidade no cotidiano de sua rua, bairro, comunidade, cidade.
É um embate de percepções. Enquanto a esquerda buscará falar à razão e à memória — recuperando o discurso da proteção nacional e da luta contra privilégios —, a direita investirá no instinto e na emoção, apostando no medo como catalisador de votos. Enquanto não difene o nome, esse agrupamento já tem na segurança a sua bandeira de luta.
O fato é que a disputa, portanto, não será apenas por projetos de governo, mas por narrativas capazes de sintetizar as angústias do país. A soberania nacional e a segurança pública são, em última instância, expressões diferentes do mesmo sentimento coletivo: o desejo de controle. A esquerda quer devolver ao Brasil o controle sobre seu destino; a direita quer devolver ao cidadão o controle sobre sua vida para via da liberdade.
O resultado dessa disputa dependerá menos dos programas partidários e mais de quem souber traduzir melhor as ansiedades da sociedade brasileira. Lula tentará seu quarto mandato, enquanto a direita procura encontrar uma equação, embora acredite piamente que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (REP), seja o nome a liderar esse movimento com as bênçãos de Jair Bolsonaro (PL). A verdade é que 2026 promete ser o ano em que o voto será guiado, mais do que nunca, por uma pergunta silenciosa: o que é mais urgente — proteger o país ou proteger-se nele?
Ivandro Oliveira é jornalista




