A operação policial no Rio de Janeiro volta a colocar o país diante do espelho. E o que se vê ali não é apenas o reflexo da violência — é o retrato de um Brasil adoecido pela omissão, pela falta de políticas públicas e pela inversão de valores que, aos poucos, foi naturalizando o absurdo. Chegou a hora dos homens e mulheres de bem, comprometidos com o futuro desta nação, assumirem o desafio de reconstruir o sistema de proteção e bem estar social do país, mas entendendo que segurança não se faz apenas com armas e repressão. Segurança se faz com oportunidades, com educação, com assistência social, com trabalho e dignidade. É preciso gerar uma cultura de paz, mas também de mérito, de reconhecimento pelo esforço e pelo exemplo.
Não compactuo com a tese de que o bandido é mero “reflexo da sociedade”. Sou filho do Valentina Figueiredo, criado numa casa simples, onde só havia o essencial — e, talvez por isso mesmo, aprendi o que é essencial de verdade. Meu pai e minha mãe me ensinaram que o caminho é o do estudo, do trabalho e da honestidade. Comecei a trabalhar aos dez anos de idade. Passei por privações, vi tentações surgirem ao meu redor e, por mais de uma vez, fui aliciado por criminosos. Colegas meus seguiram esse caminho. Hoje, muitos deles não estão mais aqui. Eu escolhi o caminho mais difícil, o da educação, da resistência e da fé no amanhã. Porque crescer pelo estudo é árduo, mas é o único caminho que liberta.
Não há dinheiro, poder ou status que pague o preço de uma consciência tranquila. A verdadeira riqueza é poder andar de cabeça erguida, sem dever nada a ninguém. Por isso, quando vejo operações como essa no Rio, não consigo aplaudir nem condenar de forma simplista, embora entenda que no atual estágio, infelizmente, tanto no Rio como em comunidades ou bairros de João Pessoa, para citar exemplos nossos, não há como entregar rosas a quem quer se sobrepor ao poder do Estado. O problema, claro, é mais profundo. É social, é moral, é político. E só será resolvido quando a sociedade deixar de tratar a criminalidade como destino e passar a encará-la como escolha — uma escolha que pode ser evitada quando o Estado e a comunidade oferecem caminhos melhores.
Liberdade é o bem mais caro que existe. E é por ela que vale a pena lutar — não apenas com armas, mas com justiça, com dignidade e com coragem para dizer que o Brasil precisa, sim, mudar. Começando por nós.
Ivandro Oliveira é jornalista




