Lula exala incoerência com preocupação seletiva sobre direitos humanos; por Ivandro Oliveira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se colocado no cenário internacional como defensor da paz e de uma ONU mais democrática. Não é raro ouvi-lo discursar sobre a necessidade de reformar o Conselho de Segurança, ampliar vozes do Sul Global e dar maior equilíbrio às decisões internacionais. O discurso, em tese, soa bonito. Mas quando confrontado com a realidade dos conflitos e com o autoritarismo de seus aliados, Lula se perde em incoerências gritantes.

Foi exatamente isso que aconteceu numa recente entrevista à BBC. A jornalista foi direta: se o Brasil defende uma ONU mais democrática, por que Lula não denuncia o autoritarismo de países como Rússia, China e Irã — regimes marcados por eleições controladas, perseguição a opositores e sistemáticos abusos de direitos humanos? Em vez de responder, o presidente preferiu escorregar para o discurso ensaiado sobre a reforma da ONU.

A repórter insistiu. E novamente Lula se desviou. Quando a pergunta foi ainda mais objetiva — por que criticar Israel com tanta contundência e não aplicar o mesmo rigor à Rússia de Vladimir Putin —, o petista subiu o tom e afirmou que “em Gaza não há guerra, há genocídio”, acusando Israel de usar um exército altamente qualificado para “matar mulheres e crianças”.

Ora, se aplicarmos a mesma lógica, o que acontece na Ucrânia? A Rússia, com seu poderio militar, não tem poupado civis, hospitais, escolas ou infraestrutura básica. A invasão russa, iniciada em 2022, já deixou dezenas de milhares de mortos e milhões de refugiados. A diferença é que, nesse caso, Lula prefere a condescendência diplomática.

O contraste é gritante: Israel é alvo de acusações diretas e severas, enquanto Putin recebe o benefício da dúvida. É como se, para o presidente brasileiro, na Ucrânia os soldados russos não fossem militares brutais, mas “ursinhos carinhosos” em missão de paz.

Essa seletividade fragiliza o discurso brasileiro. Se Lula realmente quer uma ONU mais democrática e um papel de mediador internacional, deveria adotar o mesmo peso e a mesma medida para condenar violações de direitos humanos — sejam elas cometidas por Israel, pela Rússia ou por qualquer outro país. Caso contrário, o Brasil deixa de ser visto como voz equilibrada e passa a ser percebido como um ator enviesado, guiado mais por afinidades ideológicas do que por princípios universais.

Ao fugir das perguntas incômodas e escolher alvos convenientes, Lula não apenas expõe sua incoerência: compromete a credibilidade do Brasil como defensor da paz e dos direitos humanos.

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