Poderia começar este artigo com uma análise fria da história política da Paraíba, elencando cargos, datas e fatos que marcaram a trajetória de Antônio Marques da Silva Mariz. Mas não seria suficiente. Mariz não se resume a uma biografia bem-sucedida; ele se imortalizou como referência moral e exemplo raro de homem público que soube unir firmeza de convicções, serenidade no debate e um compromisso inquebrantável com o bem comum.
A primeira vez que ouvi falar de Mariz não foi nos livros ou nos jornais, mas por meio da voz do meu saudoso pai, um confesso admirador do ex-governador. Essa lembrança pessoal me devolve ao tempo em que a política ainda era capaz de inspirar confiança e despertar respeito. Meu pai enxergava em Mariz um símbolo de equilíbrio e de decência — virtudes que, em tempos de polarização e descrença na política, parecem cada vez mais escassas, mas que permanecem necessárias e urgentes.
Nesta terça-feira (16), completam-se 30 anos da morte de Mariz. O calendário não deixa esquecer a ausência precoce daquele que partiu aos 57 anos, em 1995, vítima de um câncer, apenas nove meses após assumir o governo da Paraíba. Sua morte interrompeu um projeto promissor, mas não apagou o legado de integridade e espírito público que deixou como herança.
Natural de João Pessoa, mas com raízes políticas fincadas em Sousa, Mariz percorreu uma trajetória que atravessou diferentes fases da história nacional. Promotor de Justiça, prefeito, deputado federal, senador e constituinte de 1988 — cargo em que presidiu a Subcomissão dos Direitos e Garantias Individuais —, foi um dos primeiros na Paraíba a se insurgir contra a linha dura do regime militar, ainda nos anos 1960. Mais tarde, tornou-se voz ponderada e firme na redemocratização e, no Senado, teve papel decisivo como relator do processo de impeachment do presidente Fernando Collor.
A vida poderia tê-lo vencido antes, com a doença que já o acometia em 1994, mas Mariz escolheu enfrentar as urnas e venceu, derrotando Lúcia Braga no segundo turno. Assumiu o governo com o lema “Governo da Solidariedade”, priorizando educação, saúde e o combate à pobreza extrema. Foi pouco o tempo, mas suficiente para deixar marcas: honestidade na condução do Estado e sementes de políticas sociais que se desenvolveriam adiante pelas mãos do seu vice, o igualmente saudoso José Targino Maranhão.
Três décadas se passaram, mas a lembrança de Antônio Mariz permanece viva, não apenas como memória de uma gestão abreviada, mas como símbolo de que a política pode, sim, ser espaço de grandeza e serviço. Em um cenário onde as paixões políticas se transformaram em trincheiras, recordar Mariz é reencontrar a possibilidade de uma política feita de diálogo, coragem e humanidade.
Mais do que reverenciá-lo, lembrar Mariz é reafirmar um compromisso: de que a Paraíba e o Brasil ainda podem se orgulhar de seus homens públicos, desde que a decência e o bem comum voltem a ser os pilares da vida política.
Ivandro Oliveira é jornalista