O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parece ter escolhido um caminho perigoso ao radicalizar o discurso contra Donald Trump, de olho apenas em dividendos eleitorais internos. Em vez de adotar uma postura pragmática, que preserve os interesses comerciais e estratégicos do Brasil, Lula resolveu fincar um palanque ideológico e mexer em velhas feridas do lulopetismo, atacando o “imperialismo americano” em pleno 2025.
O problema é que o adversário agora é Donald Trump, um político que não conhece limites quando se sente desafiado. E, diferente dos tempos em que a retórica antiamericana servia apenas como narrativa para a militância, hoje os riscos são concretos e imediatos. Trump já impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros — uma medida dura, mas que pode ser apenas o começo.
Caso decida acionar o arsenal completo da “Seção 301” da legislação comercial americana, Trump poderá impor sanções ainda mais agressivas. Ele pode, por exemplo, aplicar restrições a empresas de qualquer país que mantenham negócios com o Brasil, ampliando o cerco econômico e isolando o país no mercado global. Trata-se de um instrumento legal e já utilizado contra países como China, com impactos devastadores.
Num cenário assim, quem paga a conta são milhares de empresas brasileiras e milhões de trabalhadores que dependem, direta ou indiretamente, do comércio com os Estados Unidos — nosso segundo maior parceiro comercial. Colocar isso em risco por pura vaidade política ou por um discurso ultrapassado é, no mínimo, irresponsável.
Mais curioso ainda foi o tom do pronunciamento feito por Lula na noite de quinta-feira (17), quando tentou inverter a lógica dos fatos, como se os Estados Unidos estivessem em desespero para negociar com o Brasil. Um devaneio. É o Brasil que precisa manter boas relações com seus principais parceiros comerciais para não afundar ainda mais em crises que já são profundas no campo social, fiscal e político.
A continuar nessa toada, Lula pode empurrar o Brasil para um processo semelhante ao que devastou a Venezuela. Um país fechado, isolado, acuado e empobrecido, comandado por um governo que prefere a guerra ideológica à diplomacia. E o resultado disso já sabemos: inflação, desemprego, recessão e perda de credibilidade internacional.
Num momento em que o mundo exige racionalidade, estratégia e maturidade geopolítica, o Brasil não pode se dar ao luxo de ter um presidente brincando de palanque com o futuro da nação. Lula precisa descer do palanque — antes que leve o país inteiro com ele.
Ivandro Oliveira é jornalista.