O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem demonstrado apetite crescente por medidas que elevam a arrecadação tributária como principal estratégia para equilibrar as contas públicas. Em vez de promover um corte significativo de gastos, o Palácio do Planalto tem se concentrado em aprovar novas taxações e revisar isenções, provocando críticas de economistas, setor produtivo e da oposição.
Desde o início do terceiro mandato, Lula e sua equipe econômica — liderada pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) — têm defendido o discurso da “justiça fiscal”. No entanto, na prática, o que se observa é uma série de iniciativas voltadas à ampliação da carga tributária.
Entre os exemplos recentes estão a taxação das apostas esportivas (as chamadas bets), a reoneração gradual da folha de pagamentos, a retomada da cobrança sobre incentivos fiscais estaduais e a proposta de taxar os fundos exclusivos e investimentos de brasileiros no exterior — todos com objetivo claro de reforçar o caixa federal.
Segundo dados do próprio governo, apenas em 2024 essas medidas devem adicionar cerca de R$ 60 bilhões à arrecadação. Em contrapartida, cortes de gastos estruturais, como a revisão de subsídios, programas sociais mal focalizados ou a contenção da máquina pública, seguem praticamente inexplorados.
Críticos apontam que o modelo atual mascara o desequilíbrio fiscal e empurra soluções duras para o futuro. “É um ajuste baseado em receitas extraordinárias, que pode não se sustentar nos próximos anos”, afirma o economista Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas. “Sem enfrentar o problema dos gastos obrigatórios, a pressão por mais impostos vai continuar.”
Além das medidas pontuais, o governo também aposta na reforma tributária, aprovada em 2023 e em fase de regulamentação. Apesar de ser vendida como uma simplificação, a mudança vem sendo usada como brecha para a criação de novas cobranças setoriais — o que acendeu o alerta entre empresários e consumidores, que temem aumento real da carga tributária.
A opção por ampliar impostos em vez de revisar despesas revela, para analistas, uma postura de governo que prioriza a manutenção de programas e estruturas, mesmo que isso implique em maior peso para o contribuinte. Uma escolha política que pode ter efeitos econômicos duradouros — especialmente em um país onde a carga tributária já ultrapassa 33% do PIB.