Lula reedita ‘nós contra eles’ e vai para cima do Congresso

Lula e Hugo Motta. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Depois das repetidas derrotas no Congresso, o governo decidiu partir para o ataque. O Palácio do Planalto quer aprofundar a tese de que o Parlamento legisla para os mais ricos e cobra sacrifícios apenas dos mais pobres. De cara, ontem, ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou o discurso “Robin Hood” que o governo ensaiava desde o início da crise do aumento do IOF. “Nós vamos continuar fazendo justiça social. Podem gritar, podem falar, mas chegou o momento de fazer justiça pelo Brasil”, disse ele.

Na semana passada, o presidente Lula já havia usado suas redes sociais para publicar uma pequena história em quadrinhos no mesmo tom, passando a ideia de que é preciso cobrar mais impostos dos ricos para se fazer justiça tributária no país. No evento de lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, Lula deu tração ao discurso: “Nós queremos fazer com que esse país se transforme num país justo, e ele começa a ser justo pela tributação.”

O paraibano Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara, reagiu à ofensiva governista contra o Congresso. Em um vídeo publicado em suas redes sociais na manhã de domingo, em clima de espera para o jogo do Flamengo, o deputado tratou de contra-atacar. Disse ser uma “fake news” o discurso de que o Congresso não olha para o povo e de que tenha traído o governo no debate sobre o IOF.

Motta criticou o que chamou de discurso do “nós contra eles” e defendeu a derrubada do decreto presidencial que aumentava a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras. “A polarização política no Brasil tem cansado muita gente, e agora querem criar a polarização social”, afirmou o deputado paraibano.

Na sequência dos fatos, ainda ontem, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, definiu que o ministro Alexandre de Moraes será o relator de uma ação proposta pelo PSOL para retomar o decreto com as mudanças no IOF, derrubando por via judicial a decisão do Congresso. O PSOL, que é uma espécia de apêndice do governo, se antecipou ao próprio governo, que pretende entrar com ação semelhante.  

Já a Advocacia-Geral da União recebeu, também ontem, a determinação de Lula que preparasse ação semelhante na tentativa de derrubar o veto do Congresso contra o decreto presidencial. No entendimento do governo, a decisão dos parlamentares é inconstitucional. 

O fato é que o governo parece mesmo decidido a ir para o confronto com o Congresso, mesmo sabendo dos eventuais dissabores que enfrentará a partir disso. Se conseguirá vencer, só o tempo vai dizer, mas o fato é que o ‘relógio’ anda a passos rápidos para Lula, que só tem apenas 18 meses para virar o ‘jogo’ e receber o passaporte para 2027.

Ivandro Oliveira é jornalista

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