Congresso mostra a Lula quem é o dono da ‘bola’; por Ivandro Oliveira

Motta, Lula e Alcolumbre no Planalto

Câmara e Senado Federal deram um recado claro ao governo Lula: quem dá as cartas na política nacional, neste momento, é o Congresso. Em votação simbólica nesta quarta-feira (25), deputados e senadores derrubaram o decreto presidencial que aumentava o IOF — o Imposto sobre Operações Financeiras. Um gesto que vai muito além da pauta tributária. É, antes de tudo, uma demonstração de força. Uma mensagem direta: o Legislativo quer — e pode — governar.

A derrota do Executivo foi dura. E não foi por falta de articulação apenas. Foi porque, estrategicamente, os parlamentares decidiram marcar posição. Mostraram que podem enfrentar o governo e impor derrotas. O pano de fundo, claro, são as eleições municipais do ano que vem, mas há mais do que isso: há uma disputa real por poder.

O Congresso quer mais do que apenas aprovar ou rejeitar projetos. Ele quer moldar o orçamento, alocar recursos, ditar prioridades. E tem feito isso com eficiência já faz um bom tempo — seja por meio das emendas parlamentares, seja travando medidas que partem diretamente do Executivo. Na prática, está governando.

E mais: ao derrubar o aumento do IOF, o Congresso passa a imagem de defensor do contribuinte, mesmo tendo responsabilidade direta pelo desequilíbrio fiscal com suas próprias pautas-bomba. É o paradoxo: o Legislativo rejeita aumento de impostos, mas continua a ampliar gastos.

O governo Lula 3 já vinha acuado em temas sensíveis. Agora, está também acuado na capacidade de moldar a narrativa política. E, em política, controlar a narrativa é tão ou mais importante do que controlar o orçamento.

A lição dessa quarta-feira é simples: quem subestimar o Congresso nos moldes dessa atual configuração política corre o risco de ficar para trás. O Legislativo aprendeu a usar as ferramentas do poder. E, pelo visto, não pretende devolvê-las tão cedo.

Ivandro Oliveira é jornalista


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