O primeiro dia do cessar-fogo entre Irã e Israel produziu uma situação inusitada: todos os envolvidos no conflito se declararam vitoriosos, ou seja, nenhum vencido.
No lado israelenses, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que os combates trouxeram uma “vitória histórica” para o país contra seu maior inimigo na região.
Já em Teerã, protestos organizados pelo governo contra os EUA e Israel celebravam o que o regime também chamou de uma vitória no conflito.
Em ambos os países, a retórica triunfalista veio acompanhada de ameaças mútuas caso o cessar-fogo não seja cumprido. E o fato de os dois países terem respeitado o acordo e não realizarem ataques nas últimas 24 horas, contrariou as expectativas, já que havia acusações iniciais de violação da trégua.
No início da semana, o presidente americano Donald Trump chegou a temer por um fracasso no cessar-fogo e teve uma ríspida conversa com Netanyahu.
De acordo com informações publicadas na imprensa israelense, aviões de Israel estavam a caminho do Irã para uma nova onda de ataques, abortados após o telefonema de Trump.
Mas isso não significa que a guerra acabou de vez. Ao final de 12 dias, ao que parece, o conflito não teve nenhum vencedor e múltiplos perdedores. Ontem veio a confirmação de que o programa nuclear iraniano não foi destruído, como afirmaram Trump e Netanyahu no final de semana. Um relatório sigiloso preparado pela inteligência americana diz que o programa foi apenas atrasado em alguns meses.
Ao chegar à Holanda para o encontro de cúpula da Otan, Trump mudou o discurso. Embora se vangloriasse que o ataque americano a instalações nucleares iranianas “encerrou a guerra”, ele admitiu que a capacidade atômica do Irã não foi dizimada, como afirmara no fim de semana, e sim “atrasada em décadas”. O presidente comparou os dois países em conflitos a “garotos brigando no pátio da escola”. “Deixe-os brigar feito doidos por dois minutos, e aí fica fácil apartar”, disse. Apesar do tom triunfalista, Trump não escondeu a irritação com o vazamento do relatório sigiloso. (BBC)
A guerra de 12 dias entre Irã e Israel trouxe muitas dúvidas e ao menos uma certeza. Mesmo com toda a tecnologia disponível ainda é impossível atingir objetivos militares ambiciosos sem colocar tropas no terreno. Mesmo com soberania aérea, como Israel obteve no Irã, ataques com caças e bombardeiros têm poder limitado.
A verdade é que o conflito, dado como encerrado por Trump, está muito longe de acabar.
Ivandro Oliveira é jornalista.