Enquanto Celebram o 5G, 29 Milhões Ainda Estão Fora da Internet
Por Alek Maracajá
Neste 17 de maio, Dia Mundial da Internet, o Brasil tem motivos para celebrar, mas também razões para refletir. Avançamos em números de acesso, mas ainda estamos longe de garantir uma conectividade que transforme de fato a vida das pessoas e o ambiente de negócios.
Em 2005, apenas 13% dos domicílios urbanos brasileiros tinham acesso à internet. Em 2024, esse número saltou para 85%, segundo a pesquisa TIC Domicílios do Cetic.br. Foi um crescimento expressivo, impulsionado principalmente pelas classes C, D e E. No entanto, ainda estamos diante de um país dividido: apenas 22% da população possui o que se chama de conectividade significativa aquela que garante qualidade de conexão, múltiplos dispositivos e uso constante com impacto social e produtivo.
A conectividade também varia conforme a região. Segundo o Cetic.br:
• Centro-Oeste: 95,4% dos domicílios com internet
• Sudeste: 94,1%
• Sul: 93,5%
• Norte: 90,4%
• Nordeste: 89,1%
São números que mostram avanços, mas também revelam as persistentes desigualdades. O Brasil ainda tem cerca de 29 milhões de pessoas desconectadas, e grande parte da população das periferias urbanas e áreas rurais enfrenta dificuldades com velocidade, estabilidade e custo do serviço. Além disso, 34% da população segue em níveis baixos de conectividade.
A chegada do 5G tem sido um marco. Em 2024, o número de assinantes ultrapassou 20 milhões, dobrando em relação a 2023. Capitais como João Pessoa, Recife, Curitiba e Salvador já experimentam melhorias significativas em mobilidade e estabilidade digital. Mas a cobertura nacional ainda enfrenta desafios não basta ter o sinal ativado, é preciso infraestrutura, aparelhos compatíveis e políticas de inclusão.
“O acesso cresceu, mas a capacidade de transformar dados em desenvolvimento ainda é privilégio de poucos. O próximo salto não será apenas técnico, será educacional e estratégico.” Alek Maracajá
Se a conectividade é o desafio, as universidades públicas estão se consolidando como a resposta. Em seus laboratórios, centros de pesquisa e polos EMBRAPII, estão nascendo soluções tecnológicas que impulsionam não só a ciência, mas a economia, a indústria e a sustentabilidade.
O Nordeste como território de inovação e protagonismo digital
Embora enfrente desafios históricos em infraestrutura, o Nordeste tem se destacado nacionalmente pelo protagonismo em ciência, tecnologia e inovação. Cidades como Salvador, Fortaleza, João Pessoa, Campina Grande e Recife são referências nacionais em conectividade urbana, polos tecnológicos e soluções digitais.
Salvador lidera o ranking de cidades inteligentes e conectadas do Nordeste e figura entre as dez mais inovadoras do Brasil, segundo o estudo Connected Smart Cities 2024. Fortaleza é um hub internacional de cabos submarinos de fibra óptica. João Pessoa se destaca por sua política de acesso público à internet e eventos internacionais de robótica. Campina Grande é conhecida como o Vale do Silício brasileiro. E Recife, com o Porto Digital, segue sendo um dos principais parques tecnológicos da América Latina.
“O Nordeste deixou de ser apenas território de futuro: hoje é solo fértil de inovação, onde ciência, tecnologia e criatividade brotam com força e transformam realidades.” Alek Maracajá
Na Universidade Federal da Paraíba, a unidade EMBRAPII do CEAR realiza projetos em energias renováveis e mobilidade elétrica com empresas como Huawei e Rio Alto. Em Pernambuco, a UFPE se destaca com o Centro de Informática e o I-LITPEG, que juntos somam mais de R$ 460 milhões investidos em soluções veiculares, modelagem de reservatórios e transição energética.
Universidades que movimentam bilhões e moldam o futuro
Na Universidade Federal de Uberlândia, o laboratório LTAD e a unidade EMBRAPII FEMEC já captaram mais de R$ 60 milhões em parcerias com Petrobras, Usiminas e GM. Na UFG, os laboratórios multiusuários e o CEIA atuam em inteligência artificial com mais de R$ 50 milhões investidos. A UFSC ampliou sua unidade EMBRAPII POLO com R$ 18 milhões focados em descarbonização e vibração industrial. Já a UFRJ, em seu Parque Tecnológico, abriga gigantes como Halliburton, Siemens e GE, somando R$ 250 milhões em pesquisa aplicada.
A UFABC mantém mais de 100 convênios com empresas como Honda, Nestlé e IBM. A UTFPR destaca-se com o LAMIA em robótica e sensores inteligentes.
Ao todo, as unidades EMBRAPII já movimentaram mais de R$ 2,3 bilhões em projetos com empresas privadas 67% deles com micro e pequenas empresas. O que mostra que, além de gerar conhecimento, as universidades também movimentam o ecossistema de inovação e desenvolvimento econômico.
“Num mundo hiperconectado, não basta estar online. É preciso estar preparado. E ninguém prepara melhor o Brasil para o futuro do que as universidades públicas e seus laboratórios de inovação.” Alek Maracajá
Em um país ainda marcado pela exclusão digital e pelas desigualdades regionais, é nas universidades públicas que se planta o futuro. O Brasil já avançou muito. Mas para conectar todos com qualidade, equidade e propósito, ciência, dados e vontade política precisam andar juntos.
WSCOM